28 de janeiro de 2010

SP Fashion Week [5° dia]

Oii pessoas!
É... e aqui estamos, no penúltimo dia da SPFW, e por conta disso, chega de falar sobre isso e vamos ao que realmente importa, não é!?
E tudo começa com o meu querido e perfeito Alexandre Herchcovitch, que além de um excelente estilista, tira inspirações inacreditáveis. A inspiração da vez é O sétimo selo, filme medieval de Ingmar Bergman. Dark e pesado, o desfile conversa com a coleção de verão 2008, baseada no black metal. E é o contraponto com a última temporada, que somada a esta dá a exata medida do Alexandre atual. Naquela, o foco era a perfeição na alfaiataria, vestindo um dândi com um quê cínico. Agora, sinalizando a pecha underground que fez seu DNA, o estilista carrega na personagem mortal e bizarra, mas com uma vibe quase... Pacífica. Como se fosse uma morte sem pressa, quase amiga, daquelas de beber no bar, esperando a vez de dar o xeque-mate. É claro: imagem é tudo e o makeup é preciosista, mas as roupas são o show do momento. Alexandre pisou em cima de todos os outros (pouco) concorrentes e fez a melhor coleção masculina desta temporada. Acertada, arraigada, atual, fina, usável e vendável. Como a boa morte, a onda aqui é em tons de cinza, preto e branco - à parte o xadrez vermelho. A silhueta é larga, disposta sobre leggings, e faz referências à dualidade de personagens de Bergman (mas sem ser cabeça como pode soar). Da mesa de xadrez, foi importado o quadriculado preto e branco. Do homem medieval vem tricôs brilhantes, feito malhas de metal. Da morte, capuzes, mantos e trenchs desconstruídos - num lado o braço normal, com silhueta marcada; no outro, a abertura desmontada, à la poncho em um exercício sensacional de modelagem (assim como o macacão em xadrez e preto, que parecem peças separadas à primeira vista).

OEstúdio está para a moda como a Tryptique para a arquitetura. Uma união de gente que gosta de pensar em novas formas de fazer. Aqui, no caso do coletivo carioca, de fazer moda. Latu sensu. Passando a régua, há mais conceito do que roupa. Há mais energia gasta em propor imagens de apresentação do que esforço em renovar o vestir. Neste inverno, a coleção foi mostrada em vídeo, num big telão na sala 2. Um menino daqui, uma menina daqui, que vão aparecendo com roupas feitas de lã xadrez, malha de estampa fluo, veludo verde. Devagar, entram em sintonia nessa moda, até se cruzarem e dividirem a mesma capa de chuva - uma imagem delicada, no melhor estilo final feliz, ajudada pela trilha de Bach. O fato é que a apresentação engole a atenção que se coloca sobre as roupas, que são qualquer nota - ela é mera coadjuvante neste espetáculo de tecnologia.

Tecnologia, futuro, laser. Não há como falar de Jefferson Kulig sem mencionar tais palavrinhas. O estilista é um entusiasta do tema e busca a cada apresentação materiais novos (emborrachados, com silicone etc) e silhuetas futuristas. Em uma apresentação curta, com cerca de 20 looks, ele levou para a passarela boas ideias de vestidos-camisetas - principalmente a sequência com golas altas listradas (repare que algumas listras eram de tule e davam um contraste interessante entre a silhueta real, do corpo da modelo, com a criada pela roupa) e os com estampas de tricô (feitos de um tipo de moletom tecnológico que tem toque semelhante à helanca). O mix de materiais e cores das jaquetas do início também causou boa impressão. E, assim como a Iódice, Jefferson criou uma renda à laser (funcionou mais no preto) - numa provável tentativa de deixar mais feminino o hi-tech. Ainda sobre feminiliade, os looks drapeados em jérsei e máxipaetês poderiam ser evitados. De aparência pesada, andaram no sentido oposto do restante das peças: não era futurista, nem na forma, nem no conteúdo.

Pode-se dizer que foi a coleção menos Neon da Neon. As mulheres estavam lindas como sempre, com suas bocas vermelhas e seus cabelos brilhando como a seda (ou Seda?) e seus trejeitos de granfinas entediadas. O tédio era tanto que elas resolveram dar uma virada no guarda-roupa e sairam às compras para um novo look. Resolveram que seriam menos Bond Girls para se ligarem mais na luz do dia, nas aves e nos animais (às vezes como caças, às vezes como caçadoras). Como acontece sempre diante de uma novidade, nem tudo dá certo. Algumas roupas novas eram muito bonitas e outras, apenas coloridas (como a capa de lã amarelona). Para o dia-a-dia a escolha foram blusas de seda usadas com calças de alfaiataria e botas altas por fora; ou então vestidos curtos confortáveis, como o roxo bem godê. Como estas mulheres amam roupas estampadas, não resistiram e colocaram várias na sacola, mas o grande achado foram os casaquetos feitos com com o trabalho artesanal Mola, tipico dos indios panamenhos. Eles são recortes de tecidos coloridos que formam desenhos parecidos com estampas quando vistos de longe e de perto causam um efeito sensacional. O que torna as mulheres Neon adoráveis é que têm um enorme senso de humor e, uma vez que entram na brincadeira, vão até o fim inventando uma festa na floresta para convidar os amigos e para usar as mais loucas fantasias de tucano, coruja, urso, arraia e elefante que fizeram a platéia aplaudir e se divertir com elas.

Nesta estação, suas mulheres vestem calças amplas - uma delas, realmente maxi, mais parece uma saia inconformada com sua situação; pouco bonita, mas interessante como proposta. Cetim e cirê ficam extramolengas e, com o andar, tomam formas desajeitadas que não agradam o olhar. Já na gaze de seda e no tweed, as roupas com panos que sobram, repuxam, aparecem e reaparecem de todos os lados, funcionam bem melhor. A não ser no top-casaqueto feito de pele, a inserção do material em detalhes é feita com timidez e, por isso mesmo, fraca. Se existe alguém fiel ao seu estilo, é Wilson Ranieri. Temporada após temporada, ele apresenta suas peças construídas em moulage e, invariavelmente, de tons rosa. O compromisso é louvável, mas em alguns momentos, você acha que já viu aquilo antes.

Diz o release, escrito pelo próprio Lino Villaventura, que para fazer esta coleção "calcei as sandálias de Hermes e voei na imaginação", como se alguma vez ele tivesse voado em outra coisa! Lino fez a coleção com seus materiais favoritos: o tule, as rendas, a seda, a organza, a gaze. Fez com elas o que mais gosta e sabe: bordou, torceu, nervurou, tingiu e retingiu. A novidade é que, desta vez, interferiu mais na forma das roupas, criando para algumas delas uma modelagem menos fantasiosa como os três bonitos tailleurs justos e de saia pelo jelho com paletó acinturado e efeitos matelassé que poderiam perfeitamente ser usados em um jantar solene ou um casamento. Fez também alguns vestidos de festa curtos, bastante jovens e sexy, que vestiriam bem mulheres e meninas mais jovens do que sua clientela habitual. Não que ele desta vez tenha seguido tendências - não é seu estilo. Ele faz a moda como imagina e cria com isso sua própria assinatura e tendência.

Bom, e assim terminou o 5°, isso mesmo, o penúltimo dia da SPFW.
Vamos chegando ao fim... mas outras estações virão.... e com certeza esse vai ficar marcado.
Espero que estejam apreciando.

YEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEAH!

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