26 de janeiro de 2010

SP Fashion Week [3° dia]

Oii pessoas!
Bom, agora vamos falar sobre o 3° dia da SPFW de 2010. Vou deixar aqui, meus olhares, em relação ao Inverno ... ou pelo menos, as roupas que vamos e poderemos usar... heheehe.
Inicialmente, o dia começou com a marca Iódice.
Valdemar Iódice investiu pesado no seguro. Optou por dar ênfase aos temperos e ao molho em vez de inovar na massa. Ele tem que agradar sua clientela no Brasil sem perder de vista a americana, em quem vem apostando há algum tempo. Por isso, fez os vestidos de jérsei (pretinhos, bege e roxo) que ele sabe trabalhar muito bem, dando a eles bom caimento e bom aproveitamento, e ainda os enfeitou com pregas, ombreiras, pluminhas e drapeados para um pouco de sabor. Ombros só, tomara-que-caia e mangas assimétricas davam o toque final. Todos na medida correta do comercial, nem justos nem largos, nem ousados nem sóbrios demais. Bons tambéms os vestidos com amarrações e ilhoses em versão cocktail, e os pretinhos lisos de lã usados com lindas leggings de renda e patês (sucesso de vendas garantido). A coleção teria se beneficiado se Valdemar não tivesse passado a série de peças brancas "nuvem de jacquard"; eram brancas e leves demais para um inverno, por mais brando que ele possa ser. Como a coleção, supostamente, teria a finalidade de ajudar a manter o verde na Amazônia, uma estampa pra lá de tropical em algumas peças e belíssimas bijuterias feitas de sementes de tucumã, miçangas e cipós (um acerto que muitos tentam, mas nem todos conseguem).
Seguindo, Ronaldo Fraga.
Mais inspirado do que nunca pelo prédio da Bienal de Arte, tivemos hoje a chance de conhecer melhor o Ronaldo Fraga figurinista. Saiu de cena o Ronaldo estilista e entrou o competente criador de roupas para grandes companhias de dança como foi o belo trabalho que fez para o grupo mineiro O Corpo em 2002 e para o grupo São Paulo Cia e Dança em 2008. O que Ronaldo nos mostrou hoje não foi um show de moda, mas um pequeno espetáculo em homenagem a Pina Bausch, uma das grandes coreógrafas do balé moderno, morta em 2009. Pina era alemã e minimalista, Ronaldo é mineiro e barroco; o que eles teriam em comum? O amor pelo Brasil e o espírito livre. Livre a ponto de permitir que Ronaldo tenha feito, para esta apresentação do SPFW, roupas que ficariam melhor em cima de um palco. A começar pelo fato de que não têm nem frente nem costas, assim como as máscaras que sugeriam os rostos nas costas e os cabelos pela frente. Dificilmente aquelas peças poderão ser usadas em prosaicas cenas da vida cotidiana. Ronaldo mostra que a vida é sonho e foi por estas paragens oníricas que ele circulou. Não foi um desfile, mas um belo show e uma linda homenagem à Ms. Bausch. Ela teria apreciado.
Simone Nunes dessa vez, buscou referências nas ilustrações de Amy Cutler e nas roupas da patinação artística no gelo. O resultado seria bacana não fosse, novamente, pela modelagem. Os paletós com detalhes nas laterais são bons, mas as ombreiras são mal posicionadas e repuxam as mangas. Os vestidos com ancas tridimensionais perdem o volume na parte de trás e achatam a silhueta. A calça com a barra dobrada e as peças cropped  já perderam o ar de novidade e podiam ficar de fora. A estampa feita em parceira com a inglesa Liberty deveria ser mais bem aproveitada, no entanto, apareceu em pouquíssimos looks. Já o body com recortes e franjas prateadas usado com calça é uma boa aposta.
Para falar de força, Fabia Bercsek evocou de Joana D'Arc, cabelos curtos, botas de salto e cano altos, olhos pintados de preto, bijoux de correntes, tachas e... Muito rosinha, brilho, organza e babados, acredite se quiser. Essa dissonância tem a ver com a famosa crise dos 30 - ela tem 31 e fechou loja no meio do ano passado; pulou a coleção de inverno e reapareceu com lojão na coleção de verão. O que lhe corrói é a ideia de se estabelecer como artista. Ou estilista. Ou artista. Ela não consegue decidir. Daí que apareceram peças como uma bermuda de babados. Um top feito de tiras que deixa mais pele à mostra do que escondida. Eles sintetizam o momento de passagem - ela está em processo. "Não sei onde vai dar", confessa. A coleção é, ao todo, boa - mesmo que apareçam peças estranhas com uma bota vinho e a tal da bermuda. Há uma braveza nos desenhos, uma vontade de encontrar um caminho entre a roqueira e a menina, a artista e a estilista.
Já está virando padrão o movimento da Ellus: coleções clarinhas do verão e ultradark no inverno. Há um ano, com Agyness Deyn nas mãos, veio a coleção de jeans industriais, cinzas e sujos - muito da sujeira vem atingindo o denim de outras marcas só agora. Desta vez, o tema é "proteção" (oi, paranóia noventista) e o tom é, novamente, escuro. A estrela é o leather denim desenvolvido pela marca, que promete conforto do jeans mais a textura do couro. Mistura interessante, que deve ser sucesso comercial, e é base das principais peças. As calças não têm foco definido nem lançam tendências. Os rapazes ganham modelos retos e outros à lá cenoura, afunilados. Elas têm skinny e clochard, convivendo com os shortinhos ultracurtos. Na parte de cima, jaquetas bomber, camisas e coletes com a mesma matéria-prima. Seja qual for a peça que falta no seu guarda-roupa, a Ellus quer te atingir. Completando o desejo noventista, vêm sintéticos e resinados nos abrigos, camisetas e vestidos. Alinhando a marca ao sportswear que paira no ar da Bienal, elementos como ajustadores e apliques telados decoram parkas e casacos, vestidos fetichistas e do tipo paletó. E, para não ficar só no preto, cores chapadas pontuam aqui e ali - amarelo, azul e vermelho. Destaque para as botas-uau, de salto geométrico e colorido. Bela coleção, bela apresentação, roupas produzidas em indústria competente. Só vale um PS final sobre os garotos-propaganda. Cintia Dicker, nossa ruiva mais lindinha, brilha mais que Agyness Deyn. Mas apostar tantas fichas no boy toy de Madonna tem tudo para ser tiro n'água. O rapaz não tem corpo de modelo, porte de modelo ou brilho de modelo. O look final, 100% leather denim, poderia ser impressionante em qualquer dos rapazes que temos no casting nacional. Mas com Jesus, vira roupa de motoboy. Com todo o respeito à classe e ao Todo Poderoso, mas não é bem esse o foco da marca, certo?
Karen Fuke há tempos mostra que gosta do kitsch - vestidos para Molly Ringwald encarnar a eterna garota de rosa-shocking apareceram desgarrados de outros looks mais comerciais nas últimas três estações. Mas não para a próxima. Parece que a estilista finalmente assumiu as rédeas da marca e criou uma coleção forte e cheia de atitude. Colocando no mesmo liquidificador Harajuko, anos 1990, estampas de teias e cogumelos by Luisa Lovefoxxx, Karen montou as/os modelos como os personagens que habitam o livro Fruits - famoso por retratar o estilo de quem transitava pelo bairro japonês e um dos primeiros a levar o streetstyle para a biblioteca. E se ficou exagerado? Ficou, mas e daí? A Triton é feita para jovens, meninas e meninos que estão na fase de romper padrões (ou pelo menos de acharem que estão rompendo), pintar o cabelo com mechas coloridas e misturar o vestido de festa com o uniforme do colégio. O mérito está também em deixar os frufrus derreterem no calor do verão e partir para um inverno em que sobreposições fazem o shortinho ir à rua sobre uma meia-calça nada discreta, o tutu completa a camisa e os jeans skinny ganham amarrações trançadas atrás. Paetês, texturas metálicas, adesivos fluo, moletons se misturam como se fossem feitos um para o outro. Isso sem falar nos tamancos docksides - que devem ser muito difíceis de andar, mas têm apelo de moda de sobra. Assim como a Colcci (outra marca da AMC Têxtil), a Triton deixou os jeans para as araras da loja (de onde têm saída certa) e caprichou no styling da passarela.
E assim, terminou o 3° dia, com a Triton lindamente fechando o dia da SPFW. Olha, adorei esse terceiro dia, mas poderia ter sido menos extravasado, mais convencional, mas quem sou eu para querer que o mundo da moda seja convencional, né?
Bom, é isso... e vamos ao 4° dia do evento.
YEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEAH!

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