E agora, vamos falar do segundo dia da SPFW... Estamos agora, no dia 18 de janeiro.
Nesse segundo dia, vamos falar sobre a primeira marca a mostrar sua coleção Inverno 2010: Maria Bonita.
A imagem do concreto aparente trabalhado com leveza, ícone no trabalho de Lina, deu o tom às construções de Danielle Jensen. Vide os looks iniciais, construídos em placas de tecido que dão respiro ao tom austero da roupa. O vestido chumbo, de manga assimétrica e com fendas-surpresa, deixa no chinelo qualquer bandagem no quesito sensualidade. Em soma, Jensen encaixa a marca na tendência do sportswear, gerando abrigos e calças à la jogging. Estrela: o maxipull de quadrados transparentes.
Seguindo os desfiles, Reinaldo Lourenço, que neste inverno trata de temas praticamente opostos. Os uniformes dos anos 1940 falam de militarismo; os vestidos coluna leves e transparentes falam de luz e espiritualidade. Não houve um consenso - guerra aqui, paz lá. Estará o estilista atormentado pelas duas ideias?
O militarismo vem no início, com mínis retas ou em linha A, cheias de botões, cintos e bolsos. Perceba, pelas fotos, como os bolsos são importantes nesta seção e na das calças também. A calça de modelagem retíssima, uma marca sua, veio com a boca levemente aberta e um "saiote" na frente, como na estação passada. Acompanham camisas fechadíssimas, com mangas de couro, ou jaquetas - é um look recorrente no desfile, que fica especialmente forte na versão verde, bonita e corajosa.
O ombro é marcado - levantado, bufante, pontudo, inflado. Ele praticamente faz estudos deles. Casacos com elementos dos uniformes militares também foram constantes, mas mais fortes são as peças que misturam o bolero à pelerine, formando ombros e braços amplos, bem no início da apresentação.
É preciso ter confiança para vestir uma peça Maria Garcia e ainda assim saber encontrar seu sex appeal - porque o apelo está lá, mas é velado, meio tímido. Não há decotes óbvios e nem as minissaias são curtas para serem sexy- elas são curtas como são as roupas de uma menina que guarda no bolso um estilingue, e não uma Barbie. Daí saem shortinhos, jardineiras e macacões com jeito de roupa de menino, mas com tecidos leves, muito femininos, como georgette de seda. É uma coleção de streetwear com boas sacadas, vide o vestido de moletom cinza. E, para as noites de festa, bordados e lurex, como a tendência do inverno deve ditar. Destaque para as boas jaquetas estruturadas e os vestidos que explodem em rosa-shocking e vermelho - porque se é para se vestir de "menina", que o rosa seja o mais chamativo possível.
Para Alexandre Herchcovitch (feminino), o verão foi esportivo; o inverno será suntuoso e solene. Nada de ar puro, vida ao ar livre e torcida organizada; agora o clima é gelado, o ambiente iluminado por velas e o ar é perfumado. Qualquer cenário menos rico não será digno desta coleção sensacional em sua concepção e em sua execução. Alexandre foi à Russia, mais precisamente à Georgia, e mergulhou nos trajes típicos de suas mais ricas e exigentes habitantes para sair de lá com os olhos cheio dos mais finos bordados, da melhor pedraria e do mais trabalhado dos tecidos. Sua coleção mostra o resultado desta viagem em mantôs curtos debruados de pele em pontas assimétricas, saias godês com barras cobertas de pedras ou paetês gigantes, golas altas para vestidos, jaquetas e vestidos. Peças menos imperiais, como bermudas e calças, ele deu um jeito de transformar em trajes nobres usando incrustrações de renda e mais pedras coloridas. Os acessórios não ficam atrás e trazem na cabeça, nas meias, nos manchons de vison e nos adereços como colares e pulseiras as mesmas características de realeza e de riqueza. Parece pesado? Pois aí entra o talento e a arte de Herchcovitch: ele consegue que todo esse brilho e todos estes bordados e peles se misturem sem a menor dificuldade aos seus tradicionais xadrezes, suas lãs escuras, suas formas desafiadoras e inquietas. Nada nessas roupas envelhece, "emburguesa" ou vulgariza quem for usá-la. Arte só ajuda.
Tem sido interessante observar as coleções da Cori nos último anos, desde que começou a chamar diferentes estilistas para se encarregarem de desenhar sua moda. Foram até agora muito felizes em suas escolhas e nos resultados vistos da passarela (não sabemos detalhes das performances comerciais de cada uma delas). A primeira parceria foi em 2002 com Alexandre Herchcovitch, depois foi vez da Neon e agora temos Gisele Nasser e Andrea Ribeiro no comando do estilo da marca (esta é a segunda temporada da dupla). Todos eles souberam imprimir a ela suas caracterísiticas pessoais, sem que se ignorasse o forte estilo da casa e o gosto de suas clientes. A dupla atual de designers mostrou uma coleção compacta em torno de uma idéia extremamente comercial - ou pelo menos imaginamos que seja dada a frequência com que apareceu nas passarelas cariocas - a saia arredondada. Com mão segura e uma alfaiataria muito bem construída Gisele e Andrea colocaram na passarela do seu inverno uma infinidade de vestidos, mantôs e saias com pregas muito definidas que terminavam costuradas na bainha criando o movimento inflado. Souberam também trabalhar bem as mangas criando peças movimentaadas com seus volumes e cavas bem colocadas. Bonitas as peças em lã de efeito degradê nos terninhos e mantôs, assim como as peças em couro fininho e macio para top e vestidos. Mais do que a modelagem, as boas cores ajudaram a dar variedade aos modelos desta coleção.
Esta foi a primeira coleção que ele pensou e assinou sozinho para a marca - a anterior ainda teve Tufi Duek nos primeiros momentos. Com Patti Wilson, stylist grifada, vestindo as moças no camarim, ele fez questão de mostrar as peças, uma a uma, frisando que queria deixar uma mensagem clara: a sensualidade, DNA da marca, feita de peças decotadas, mas nunca justas. Outra referência foi a própria Forum dos anos 1990 - minimalismo, preto, fivelas. Na hora da pesquisa, um banho de Helmut Newton. A coleção é mais sofisticada do que as anteriores, em que o sexy andava meio pesado. Tem volumes rígidos nas saias de couro box, que ele chama de saia caixa, porque elas ficam meio quadradinhas. Há regatas, camisetas e camisas, bem simples e perto do corpo, que são combinadas com calças de gancho baixo e curtas - a de paetês é especialmente bonita. Alças que desenham linhas no corpo, vestidos de saia godê ou formato casulo; decotes angulosos e profundos e macacões longilíneos ajudaram a fazer o inverno "limpo", mas não frio, da marca. Deve agradar as clientes, que, muito provavelmente, andam sentindo falta daquela Forum bacana e certeira, que criava roupas-desejo. Ainda mais porque esta coleção tem materiais interessantes como a celulose e o neoprene dublado de seda, que dão o caimento dos dias atuais.
Discípulos de Balenciaga, Francisco Costa e Prada, a gente vê sempre. Mas de Viktor&Rolf, é novidade. Samuel é o mais novo candidato. Ele poderia ter dado o crédito no release, mas o assunto principal no texto é Chippendale, o rebuscado designer de mobiliário inglês do século 18. Para falar do tema, Samuel revestiu suas modelos de vestidos e saias de formas quarentistas. E dá-lhe detalhe de capitonê acolchoado, que deixava tudo bem volumoso. Ele trabalhou o silicone de uma forma interessante, mas foram os panos pesados que o seduziram mais - uma pena.
Bom, e assim terminou o 2° dia da SPFW. Espero que tenham gostado.
Bem, desculpem-me pela demora, mas é que realmente, está corrido pra mim, escrever sobre todos os dias, detalhar os desfiles e tudo mais... ainda porque, existem críticos muito melhores do que eu... hahuahuauh
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