28 de janeiro de 2010

SP Fashion Week [4° dia]

Oiii pessoas!
Como eu havia dito, vamos nós a mais uma análise dos desfiles de Inverno 2010 na SPFW.
Nesse 4° dia, começando com Gloria Coelho.
O impacto não foi o mesmo da estação passada. Depois de ter criado a série de vestidos arquitetônicos que se tornaram ícones do verão anterior, era natural que Gloria Coelho desdobrasse a idéia em mais possibilidades - o que ela fez com a perfeição de execução de sempre. O desfile abre com uma boa série de jaquetas e saias de zibeline e cetim num jogo de esportivo/habillé mais transparente/opaco, passa depois para as famosas peças construídas de fitas para chegar num novo e interessante volume fole, que transforma a rígida linha das arquiteturas em arredondadas formas orgânicas. Na sequência, vestidos em pregas de cetim e o final, lindo, com as melhores peças da coleção, em plumas verdadeiras ou recortadas em organza. Para dar o traço de modernidade, uma faixa preta percorria as mangas do punho até os ombros. As cores eram suaves - do off white ao nuvem passando, pelo rosé. Lindas as meias com fio atrás e na frente que acompanhavam os looks.

Dando continuidade, Erika Ikezili, continuou no caminho da suavidade. E acertou. Com cores lavadas (os dois tons mais fortes são vinho e preto), Erika partiu da arte figurativa das obras de Mira Schendel, Kumi Yamashita e Fred Eerdekens para criar roupas com volume nos ombros e com pontas que davam movimento às peças - a construção cuidadosa é uma boa herança da sua fase das dobraduras exageradas. Deixar as calças mais curtas e combiná-las com ankle boots trouxe frescor à coleção. Assim como evitar as mínis, o que poderia envelhecer os looks, deixou tudo bem feminino e delicado. Destaque para os últimos vestidos pretos e para os deliciosos acessórios. As ankle boots e as bolsas com franjas de metal têm tudo para virar hit entre as modernas.

Um dos melhores desfiles da temporada da grife Amapô, pode ficar sabendo - e quando isso acontece, parece que dá pra sentir antes, e de longe. Com cenário marcante, trilha forte e uma Fernanda Lima nada maternal, o desfile começou com vestido jeans feito de tiras e unidos por zíperes. A técnica foi usada em casacos, calças e saias, fazendo peças de roupas com vazados inesperados e interessantes. Outro tecido usado foi o "pano sujo do pincel"; um xadrez que apareceu amarrotado e volumoso - bem volumoso - em uma saia, depois no paletó do menino. O estampadão à la Amapô, um vestido de tiras, zíperes e uma senhora manga volumosa, foi aplaudidíssimo pelos amigos, e com razão. E a calça tipo Obelix sustentada por suspensórios lapela? E as falsas mangas amarrando paletós e saias e mangas? E as tachas perfeitamente aplicadas na calça xadrez e na bermuda masculina?

A roupa do inverno da Huis Clos deu uma afinada. Os volumes diminuiram, se afunilaram e ficaram ainda mais elegantes. Especialmente porque souberam guardar alguns drapeados para enriquecer os ombros e uns bons centimetros de tecido para envolver os braços em lindas mangas sinuosas e cheias de recortes. Clô Orozco, como diretora de criação e Sara Kawasaki, a estilista, pensaram numa mulher muito refinada para criar o inverno. Pensaram que esta mulher vai ter vários almoços, jantares e festas para ir, oportunidade de sobra para exibir os vestidos tubo delicadamente enfeitados ou debruados de franjas, plumas ou peles. Cuidaram muito também de escolher para esta roupas tecidos da melhor qualidade - tendo, inclusive, achado uma lã com um trabalho que se parecia com uma laise em tamanho maior. Ar livre? Só se for para ir assistir a uma corrida de cavalos ou para ser madrinha de um casamento muito chic, com seus vestidos e mantôs na altura do joelho. Por isso a passarela da marca não mostrou nenhuma calça comprida, nenhuma bermuda, nenhuma roupa mais esportiva. Não que esta mulher tenha se preocupado com a ausência delas; ela sabe muito bem que vai encontrar várias destas peças nas lojas da marca, pois até mesmo as finas fazem suas caminhadas, tem seus trabalho e frequentam os (bons) supermercados da cidade. Uma linda, preciosa e precisa coleção de inverno que, além do mais, parece ter mais uma qualidade: agradou a todas as mulheres da plateia devendo, portanto, ser fácil de vender (e desde quando chic não combina com cheque?).

É rotina de SPFW sair de um desfile da 2nd Floor suspirando "ah, mas que graça!". Ao contrário da marca mãe, a Ellus, que tem obrigação de ser impressionante, esta tem uma pegada jovem que dá mais abertura a bonitices de passarela, sem largar mão do tino comercial. E com uma boa ajuda do styling de Letícia Toniazzo, sempre afiadíssimo - desta vez, com o apoio de máscaras de crochê criadas pela gaúcha Helen Rödel. Para o inverno, a inspiração abocanhou o hype sobre Sherlock Holmes (revivido pelo novo filme com Robert Downey Jr.) e outros detetives, incluindo o clássico jogo de tabuleiro. E o que veio foi mais uma apresentação graciosa, liderada por Adriana Bozon e sua equipe de estilo. O trenchcoat, ícone detetivesco, foi relido e reconstruído em vestidos, casacos e pelerines. A sequência foi do cinza mescla (que deu forma a leggings para elas e até para eles, mais larguinhas, tipo ceroulas) ao preto dos vestidos com pedrarias do final, passando pelo jeans azul escuro, manchado de tinta, e estampas micro e macro. Assim como na Ellus e seu leather denim, há a invenção da vez. Uma técnica de fusão mescla tranças de tricô, em ponto largo, com o moletom e a lã de casacos e abrigos. O resultado é conceitualmente bonito (vale acionar a ferramenta de zoom!), mas não deve ser um sucesso de vendas para além da bolha fashionista.

A Animale entrou num redemoinho de pesquisa tecnológica - e não está conseguindo sair. Ela quer os tecidos mais absurdos, os recortes mais improváveis, as estampas mais modernas, os adornos mais incríveis. E só o que a gente quer é se vestir bem. Mesmo com todo esse investimento, o que importa é a roupa no corpo. Nesse quesito, vale ressaltar que poucas coisas ali são realmente desejáveis, porque aquela história de fazer paletó, calça, top, vestido... É coisa do passado. O que a marca faz são vestes - que podem lembrar paletós, calças, tops, vestidos. Tudo parece um pano jogado sobre o manequim e que recebe um jato congelante - do jeito que parar, parou. É claro que as pesquisas são uma virtude. Que as tachas de acrílico dão belo efeito nas peças. Que o feltro desgastado tem personalidade. Que os recortes no tecido dão movimento às roupas, assim como as estampas, de engrenagem, têm tudo a ver com o estudo do tema - desta vez, o avanço para o futuro versus o desgaste do tempo. Mas é que o novo, muito novo, novíssimo, se usado sem parcimônia, também pode ficar datado em cinco minutos. E não era ontem mesmo que a Animale fazia a roupa das moças sexy? Se está fazendo sucesso nas lojas e, por isso mesmo, resistindo com a consultoria e a equipe de estilo, não deve ser com essas ultramodernidades todas.

E com isso, fechamos mais um dia da SPFW, contando agora os dias para o grande e magnífico encerramento. Sim, somente mais dois dias e o maior evento de moda da América Latina estará finalizado, mas sem deixar de ser lembrado, porque cada coleção é única e perfeitamente deslumbrante. Espero que tenham gostado. Agora, vamos preparando os corações para os dois últimos dias da SPFW.

YEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEAH!

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